Artigo 22 - Materialismo Histórico Dialético


Fonte: Mídia Ativa Digital / Texto: Abrantes F. Roosevelt
“O moinho a braço vos dará a sociedade com o suserano; o moinho a vapor, a sociedade com o capitalismo industrial..." Karl Marx.



Materialismo Histórico Dialético

O Materialismo Dialético é uma compreensão filosófica, baseada em um método científico que defende que o ambiente, o organismo e os fenômenos físicos, podem modelar tantos os animais irracionais e racionais, influenciar a sociedade e a cultura, modelando a si mesmo enquanto objetos da ação social, ou seja, a matéria está em uma relação dialética com o psicológico e o social.

Este pensamento dialético idealizado por Marx contrapõe-se ao pensamento dialético idealista imprimido por Hegel, modelo que também foi fundamentado por outros adeptos do pensamento divino idealizado por este filosofo. Estes pensadores acreditam que o ambiente e a sociedade, possuem as suas bases existenciais no mundo das ideias, são criações divinas seguindo as vontades das divindades ou por outra força sobrenatural.

A Dialética Materialista expressa um necessário e mais elevado patamar de reflexão, com características muito mais libertas e mais concretas do que a dialética idealista, portanto, mostrando-se mais livres das amarras dogmáticas e anticientíficas da concepção teológica do mundo, e mais conforme com os desenvolvimentos intelectuais e científicos proporcionados pela astronomia, biologia, física, química e, especial, com a teoria darwinista de origem do homem.

No século XIX muitos pensadores alemães identificaram que houve uma forte efetivação da burguesia e agressivas implantações do capitalismo industrial. Este momento social e laboral na história, foi observado de perto por Marx e Engels que identificaram mudanças enérgicas e extremas na engrenagem do sistema social vigente de sua época.

O materialismo histórico apresentado como uma reflexão e explicação de um sistema social é uma teoria política, sociológica e econômica desenvolvida por Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX que tem como objeto de estudos a sociedade burguesa.

Os pensadores haviam entendido que o século XIX, vivente da alta modificação social propiciada pela Revolução Industrial, possuía uma nova configuração, baseada na força de produção da burguesia e na exploração da mão de obra da classe trabalhadora por parte da classe burguesa, que era dona das fábricas e dos meios de produção.

Os sociólogos também entenderam que sempre houve um movimento histórico de luta de classes na sociedade e que esse movimento era a essência da humanidade. A teoria de Marx e Engels divergia do idealismo alemão, principalmente de Hegel, que entendia haver um movimento intelectual de cada época que influencia as pessoas. Para Marx e Engels, eram as pessoas que faziam a sua época.

O materialismo histórico e dialético é o nome estabelecido para a teoria desenvolvida por Marx e Engels para explica o fenômeno social que surgia em sua época. Marx realizou estudos econômicos publicados na série de livros O capital, em parceria com Friedrich Engels, bem como escreveu e teve a publicação póstuma de seus Manuscritos econômico políticos, em que estudou a organização política da Europa após a Revolução Industrial.

Marx foi profundamente influenciado pelo filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel, que havia formulado uma teoria dialética baseada na ideia da formação de um espírito de época, que, segundo seu autor, era uma espécie de ideia metafísica e coletiva que fazia com que as pessoas vivessem de certo modo e sobre a regras desta natureza divina.

No início, Marx foi adepto dessa teoria, porém, com o passar do tempo, ele percebeu contradições internas nestas formulações. Uma delas foi a ideia de imobilidade das classes sociais. Enquanto a teoria hegeliana admite uma imobilidade metafísica das classes, Marx admitia ser possível o oposto, havia uma subversão das classes. Tal subversão somente seria possível por meio de uma revolução.

Para Marx e Engels, há uma contradição interna no sistema capitalista que faz com que os trabalhadores (os proletariados), vejam-se como produtores de tudo por meio de sua força de trabalho, mas excluídos do sistema educativo, de saúde e de segurança. Os trabalhadores produzem, mas não conseguem acessar aquilo que é deles por direito.

A burguesia, por sua vez, não trabalha (na ótica marxista, os burgueses apenas administram aquilo que o proletariado produz), mas desfruta daquilo que rende do trabalho proletário e ainda tem acesso aos serviços de saúde, educação e segurança. Essa contradição fez com que Marx e Engels pensassem em uma aplicação prática das ideias resultantes do materialismo histórico dialético.

Para os teóricos alemães, os trabalhadores deveriam tomar consciência de classe e perceber que estão sendo enganados nesse sistema. A partir desta reformulação idealistas, eles deveriam unir-se e tomar o poder das fábricas das mãos da burguesia e o poder do Estado, que, segundo Marx e Engels, serve à burguesia.

A revolução do proletariado, como Marx denominou, seria a primeira fase de um governo que tenderia a chegar ao seu estado perfeito, o comunismo, uma utopia em que não haveria classes sociais (como burguesia e proletariado). No entanto, para isso, seria necessário um governo ditador baseado na força proletária, a ditadura do proletariado. Durante esse tempo, as classes sociais seriam suprimidas pela estatização total da propriedade privada.

O materialismo histórico pretende, inicialmente, romper com qualquer tradição idealista. Para Marx, o idealismo está apenas no plano ideal e não consegue concretizar nada que de fato modifique a sociedade. A pretensão de Karl Marx era promover uma revolução social que subvertesse a ordem vigente de poder da classe dominante sobre a classe dominada. Nesse sentido, a característica fundamental do entendimento do materialismo histórico é a mudança social, de modo que o proletariado possa acessar o poder e estabelecer um governo de uniformidade social.

A teoria marxista entende que a humanidade define-se por sua produção material, por isso a palavra “materialismo” no nome de sua teoria. O marxismo também entende que a história da humanidade é a história da luta de classes, colocando, assim, as classes sociais como opostas. Nesse sentido, há uma relação dialética entre as classes, o que confere o termo “dialética” ao nome da teoria marxista, afastando-se de qualquer sentido dele antes proposto por Hegel ou por Platão.

O materialismo dialético é, então, o entendimento de que há uma disputa de classes sociais histórica desde os primórdios da humanidade e que ela está condicionada à produção material (trabalho e resultado do trabalho) da sociedade. O problema é que, na ótica marxista, o proletariado trabalha e a burguesia desfruta do lucro proporcionado pela classe operária por meio da apropriação do trabalho e do que Marx chamou de mais-valia (excedente do valor trabalho da classe proletarizada).

A mais-valia é, para o autor, a diferença de preço entre um produto final e sua matéria-prima. Essa diferença é acrescentada pelo trabalho impresso sobre o produto, e, segundo Marx, todo o trabalho é feito pelos trabalhadores, enquanto a burguesia apenas desfruta do lucro. O lucro recebido pela burguesia é uma espécie de apropriação do trabalho do operário, que possui a sua força de trabalho usurpada e falsamente recompensada por um salário.

Muitos outros filósofos como Émile Durkheim, Devid Ricardo, Adam Smith e Marx Weber também notaram estas mudanças sociais, bem como o estabelecimento dos modos de produção desta nova sociedade, identificando inclusive fortes alterações nas novas formulações das classes sociais que surgiam destas interações, fatores que transformavam as relações de consumo a partir dos meios de produção, resinificando as propriedades e bens dos capitalistas que agora possuíam valores imobiliários, características financeiras, bem distintas dos bens feudais que antes esta classe possuía no conjunto de suas posses.

Estes modos de produção estavam modificando, enquadrando e dividindo as classes sociais, fazendo-as tomar caminhos diferentes no curso da história social, separando-as por níveis e grau de recursos. Estas analises também possibilitaram entender movimento histórico e social dentro das camadas da sociedade, observando que a diferenças de classes já existia, mais uma divisão por recursos e bens imobiliários era novidade para a sociedade de sua época.

Estes estudos geraram duras críticas à sociedade capitalista que nascia das fabricas, modelo sistemático que especializava-se na formação de um novo meio social estrutural, estabelecido por um novo padrão de poder, ressaltado da ideal de classe dominante, proveniente agora do monopólio dos meios e modos de produção, fatores que suscitavam contradições decorrentes, estabelecendo divisões, e fomentando distanciamento entre os indivíduos, uma fratura social que mostrava dois lados de uma única sociedade, enquanto que de um lado prevalecia o privilégio existencial de poucos, em outro, havia o sofrimento e a carência das massas proletárias (nascia aqui na visão de Marx, uma luta de classes estabelecida com a divisão do trabalho).

As observações sobre este novo sistema social que nascia nos céus cinzentos da Europa, revolviam-se nos pensamentos de luta social sobre o que se dividia nas fabricas e nas industriais, neste entendimento de divisão social, destacam-se os pensadores, Karl Marx e Friedrich Engels. Ambos elaboram uma nova concepção filosófica do mundo, o “materialismo histórico e o materialismo dialético”, e, ao fazerem a crítica da sociedade em que vivem, apresentam propostas para sua transformação da sociedade, exercitando e externalizando o socialismo científico, implantável por meio da revolução do proletariado.

O materialismo histórico dialético é então idealizado como uma corrente filosófica que utiliza o conceito de dialética para entender os processos sociais ao longo da história. Essa teoria cientifica externa a origem do marxismo socialista, criada por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), que juntos consolidam as bases desse pensamento filosófico, para entender o novo mundo social que se ergue na formação da burguesia industrial.

Ainda nesta época foi identificado como as relações sociais estavam inteiramente interligadas às forças produtivas, correlacionando e coexistindo entre si mesmas as dualidades de suas manifestações históricas. E adquirindo novas forças produtivas, os homens modificam o seu modo de produção, a maneira de ganhar a vida, a forma de se enxerga e viver no novo mundo, fatores que modificavam todas as relações sociais existente até aquele momento histórico.

Karl Marx afirmava que o modo pelo qual a produção material de uma sociedade é realizada constitui o fator determinante da organização política e das representações intelectuais de uma época. A base material ou econômica constitui a "infraestrutura" da sociedade, que exerce influência direta na "superestrutura", ou seja, nas instituições jurídicas e políticas, que são as leis e o Estado, e também ideológicas como as artes, a religião e a moral da época. Neste entendimento devem ser interpretados como uma dialética histórica, pois não se pode analisar um separado do outro (o material separado do ideal), no caso, a infraestrutura separada da superestrutura.

A superestrutura só existe tal como existe por relacionar-se com a infraestrutura e vice-versa. Então, por serem uma relação, um somente existe tal como é por existir o outro, um, no plano material é o outro no plano do ideal.

A dialética marxista propõe que tudo o que é criado pelo ser vivo, tanto um produto moral, quanto material, não somente modela o local ou meio de vivência do indivíduo, como também seu próprio ser, em que o trabalhador ou ser social age e pensa coerentemente com suas condições de vida estabelecidas na sociedade devido aos diferentes tipos de atividades produtivas e sobretudo pela exploração exercida sobre o trabalhador pelo detentor dos meios de produção, para um maior desenvolvimento monetário e obtenção de maior lucro.

Segundo Marx, a base material é formada por forças produtivas que são as ferramentas, as máquinas, as técnicas e tudo aquilo que permite a produção. E por relações de produção, as relações entre os que são proprietários dos meios de produção, as terras, as matérias primas, as máquinas e aqueles que possuem apenas a força de trabalho.

A dialética marxista postula que as leis do pensamento correspondem às leis da realidade. A dialética não é somente um pensamento, ele é pensamento e realidade a um só tempo indissolúvel. Mas a matéria e seu conteúdo histórico ditam a dialética do marxismo. A realidade é contraditória com o pensamento dialético. A contradição dialética não é apenas contradição externa, mas unidade das contradições, uma identidade.

Para Marx "a dialética é a ciência que mostra como as contradições podem ser concretamente idênticas, como passam uma na outra, mostrando também por que a razão não deve tomar essas contradições como coisas mortas, petrificadas, mas como coisas vivas, móveis, lutando uma contra a outra em e através de sua luta...". Os momentos contraditórios são situados na história com sua parcela de verdade, mas também de erro, não se misturam, mas o conteúdo, considerado como unilateral, é receptado e elevado a um nível superior.

A dinâmica dialética histórica tem como base a Hipótese + Desenvolvimento + Tese + Antítese + Dialética = Síntese, expressa na contundência deste ensinamento, afirmando que tudo é fruto da luta de ideias e forças, que na sua oposição geram a realidade concreta, que, uma vez sendo síntese da disputa, torna-se novamente tese, que já carrega consigo o seu oposto, a sua antítese, que numa nova luta de um ciclo infinito gerará o novo, a nova síntese. A hipótese fundamental da dialética é de que não existe nada eterno, fixo, pois tudo está em perpétua transformação, tudo está sujeito ao contexto histórico do dinâmico e da transformação.

A dialética de Hegel é diferente da dialética de Marx. A primeira é idealista (das ideias) e a segunda, é materialista (do material). Para Marx o mundo material é que determina o mundo das ideias. Foi, contudo, de Hegel que Marx retomou e aprimorou o conceito de dialética, caracterizada, segundo este, principalmente pela transformação das coisas sociais.

Marx nega a "síntese" de Hegel, que viria da "tese" e da "antítese". No pensamento marxista, não há uma transformação para a síntese de contrários, mas uma transformação essencial do objeto, uma mudança de qualidade. Coisas velhas, anciãs, num dado momento histórico tornam-se insustentáveis e transformam-se em outras coisas, novas, qualitativamente diferentes do que lhe deu origem, ainda que contenham traços daquilo que foi a origem antiga. O novo sempre nasce do velho, nada nasce do nada, do abstrato.

Mas a transformação do velho, origina-se numa coisa que a ultrapassou, mostrando-se num estágio avançado, de qualidade diferente. As forças produtivas da sociedade transformam-se ao longo da história, passando, por exemplo, da forma escravagista antiga para a forma servil do feudalismo. Mas o impulso das mudanças está sempre na base, na organização produtiva, material, interpretada pelo modo de produção juntamente com a política.

O pensamento marxista, é o modo de produção material e a política, ou melhor dizendo, a economia política, que é a Infra-estrutura social, determina a Super-estrutura social. A ideologia dominante, as formas institucionais, o direito, a ética e as leis, assim como a cultura, as artes e outras manifestações sociais, estão de certa forma no pensamento social, com base no objeto, que são produzidas pela raiz material da produção social.

A matéria é objetiva, a ideia, subjetiva, mas a observação do fenômeno material objetivo é que fornece a massa para a idealização, não o contrário, como achava Hegel. Outro aspecto relevante, é que as transformações político-econômicas que historicamente se sucedem, ocorrem pelas contradições sociais, pelos interesses contrários das classes sociais, daí a chamada luta de classes, considerada por Marx, o motor da História.

Na revolução francesa, lutaram os burgueses contra os nobres. Os interesses contrários chegaram ao ápice e a burguesia venceu e mudou a sociedade e o modelo de produção, que era servil para comercial e industrial. Mudou também a forma de exploração do homem pelo homem. O nobre explorava o servo. Depois o burguês passou a explorar o proletário. As contradições que levam à essas mudanças, são de natureza igual ao que acontece com as contradições sociais.

Um outro elemento da dialética materialista é a ideia de totalidade, a percepção da realidade social como um todo que está relacionado entre si mesmo no contexto histórico. Há também as contradições internas da realidade, em relação ao valor e não valor, lucro ou não lucro, por exemplo, dentro da produção, seja essa positiva ou negativa. Essas ideias são imprecisas. Não existem essas afirmações positivas contra negativas.

Na dialética marxista há o que se chama de Unidade de Contrários. Uma moeda, pelo fato de ter duas faces diferentes, continua sendo a mesma. Uma folha de papel, tem a página 1 e a página 2, mas continua sendo a mesma folha. Os contrários existem nas coisas na sociedade de igual maneira. Neste entendimento são como as contradições. Estão sempre juntas, num mesmo evento. Isto é o que o marxismo chama de Unidade de Contrários. A tradição filosófica idealista (que nasce das ideias) considera normalmente o sujeito e o objeto, dois seres epistemológicos. No marxismo, esses seres são uma unidade inseparável. O objeto não existe sem o sujeito e vice-versa.

Marx utilizou o método dialético para explicar as mudanças importantes ocorridas na história da humanidade através dos tempos. Ao estudar determinado fato histórico, ele procurava seus elementos contraditórios, buscando encontrar aquele elemento responsável pela sua transformação num novo fato, dando continuidade ao processo histórico.

Neste entendimento histórico dialético, observa-se que no prefácio do livro "Contribuição à crítica da economia política", Marx identificou na História, de maneira geral, os seguintes estágios de desenvolvimento das forças produtivas, ou modos de produção. O comunismo primitivo, o asiático, o escravista (da Grécia e de Roma), o feudal e o burguês. Ou seja, dividiu a história em períodos conforme a organização do trabalho humano e quem se beneficiasse dele.

Marx desenvolveu uma concepção materialista da História, afirmando que o modo pelo qual a produção material de uma sociedade é realizada constitui o fator determinante da organização política e das representações intelectuais de uma época. Observa-se que a realidade não é estática, mas dialética, está em transformação pelas suas contradições internas.

No processo histórico, essas contradições são geradas pelas lutas entre as diferentes classes sociais. Ao chamar a atenção para a sociedade como um todo, para sua organização em classes, e para o condicionamento dos indivíduos à uma classe a que pertencem e se desenvolve, esses autores também exercem uma influência decisiva nas formas posteriores de se escrever a história.

A evolução de um modo de produção para o outro ocorreu a partir do desenvolvimento das forças produtivas e da luta entre as classes sociais predominantes em cada período, identifica como o movimento da História possui uma base material, econômica e obedece a um movimento dialético. E, conforme muda esta relação, mudam-se as leis, a cultura, a literatura, a educação, as artes e as outras manifestações sociais...

O materialismo dialético propõe uma disputa que não mais seja baseada em coletividade, mas sim nos indivíduos e nos interesses que têm os meios de produção. Identifica-se que como a relação destas faz gerar de forma dialética a destruição dos atuais modelos de sociedade, de produção, de pensamento, e de poder econômico e político.

O pensamento de Karl Marx fazer-nos pensar em como estas relações perpetram com que pequenos homens possam ser considerados grandes objetos da história e da luta entre pessoas, ao invés do contrário.

Karl Popper um dos maiores críticos dogmáticos da dialética, identifica o marxismo e sua dialética como pseudociência, primeiro devido a seu caráter especulativo, depois devido a seu suposto caráter metafísico. Karl Popper e outros criticam a dialética mediante o apontamento de que não é ciência, nem corresponde ao método científico.

O modelo científico visa atestar ideias através da experimentação. A dialética visa contrapor ideias com ideias, sem a necessidade de nenhuma evidencia. A dialética, como arma retórica reduz os objetos observados ao antagonismo de tese e antítese, supostamente descartando dados significativos, obliterados pela advocacia de sua perspectiva.

O método científico não se válida de antítese. A ciência visa examinar o objeto, sem que exista interferência crítica ou especulação. Um físico interessado em examinar as propriedades dos átomos não necessita duvidar de sua constituição, nem precisa construir uma tese ou antítese antes da experimentação, mesmo porque a contradição de uma ideia não sugere seu irredutível aperfeiçoamento teórico.

Observa-se que do contrário, a antítese rompe o ciclo evolutivo da tese, ao propor uma contraposição, como irredutível elemento dissertativo, mesmo que não exista parâmetro para este antagonismo.

Mao Tsé-Tung revela que a dialética materialista não pode, de fato, ser definida como um método de experimentação científica ou método cientifico, mas, sim, passível de ser conceituada como uma lógica científica, fundamentada na generalização das leis de funcionamento do universo, tanto material quanto social.

O materialismo dialético, portanto, enquanto lógica cientifica, se propõe a estar fundamentado nos princípios gerais da unidade dinâmica que é composta por vetores contrários e sempre presentes em todos os fenômenos.

Este método cientifico está fundamentado principalmente na identificação dos componentes contrários ou contraditórios presentes em qualquer unidade dinâmica fenomênica, seja social ou natural, ecológica ou ambiental, sendo analítico, baseado na generalização da lógica de funcionamento, evolução, senescência e reestruturação e reformatação dos fenômenos.

A lógica subjacente ao esforço cognitivo realizado para a compreensão do mundo por via do materialismo dialético, pouco se diferencia daquilo que se denomina sabedoria taoista ou taoísmo, este basicamente assentado nos conceitos de yin e yang, os quais "expõem a dualidade de tudo que existe no universo".

O conceito de yin e yang descreve as duas forças fundamentais opostas e complementares (ou tese e antítese, segundo a dialética) que se encontram em todas as coisas. Igualmente, a lógica subjacente à dialética materialista compreende a diversidade qualitativa dos fenômenos, bem como a transformação duma qualidade em uma outra.

O uso da expressão método, portanto, aplicável à lógica dialética materialista, deve ser objeto de ressalva ante o conceito de método cientifico, especialmente quando este conceito (método científico) é utilizado em correspondência direta à ideia de experimentação laboratorial.

As conclusões científicas podem dispensar experimentação ou reprodução laboratorial, as conclusões científicas, que são passíveis de resultados positivos ou negativos, indiscutivelmente, de serem obtidas por dedução lógica, por processamento estatístico de observações e outros métodos.

A crítica à lógica dialética tem que, necessariamente, ou descambar para uma visão materialista mecanicista ou apelar para dogmatismos ou subjetivismos, apontando fragilidades em face, por exemplo, do emprego da especulação, sem a qual não se produz ciência.

Contraditoriamente, Karl Popper pontua que "A história da ciência é em toda parte especulativa" e isso é lógico e evidente pois a ciência se produz em fase inicial pelo questionamento, pelo raciocínio, pela lógica, sendo a experimentação uma fase instrumental e complementar à produção de verdades científicas ou à consagração de conclusões ou seu descarte, pois também as conclusões científicas podem ser precárias.

Apesar do justificado fascínio de Karl Popper pela Física, campo de máxima expressão científica segundo o filósofo, não se pode considerar razoável reputar àquele campo exclusividade científica, além do que se pode identificar, mesmo ao nível atômico, a ocorrência de forças eletromagnéticas ativas, positivas e negativas, bem como a ocorrência de uma unidade contraditória e interdependente, expressa nas forças de atração (tese ou antítese) e repulsão (antítese ou tese) presentes na dinâmica molecular que se apresentam numa unidade de contradições em equilíbrio (síntese) precário ou permanentes em permanecendo constantes as condições relevantes.

A dialética materialista, portanto, extrai do conhecimento físico, por exemplo, a identificação de leis mais gerais de regência da matéria ou dos fenômenos, constituindo um patamar mais elevado de conhecimento, o patamar da sabedoria científica.

O materialismo dialético ou materialismo filosófico é a lógica analítica fundamentada na generalização das leis que regem a dinâmica dos fenômenos, especialmente na concepção de existência de uma unidade de contrários integrados e auto dependentes, geradores de permanente dinâmica transformadora, seja em quantidades ou qualidades, seja no universo social ou natural. Em síntese, pode ser conceituado como uma teoria de funcionamento dos fenômenos.

O materialismo histórico em síntese é a lógica analítica fundamentada no materialismo dialético, que concebe a sociedade como resultante de fatores materiais, como economia, biologia, geografia e desenvolvimento científico. Opondo-se, portanto, à ideia de que a sociedade seja definida por forças sobrenaturais, divindades, pelo pensamento ou por ideais e cuja configuração geral é produto dos conflitos entre classes que emanam das formas e das relações de produção.

Neste aspecto, Marx se opõe ao controle do Estado por religiosos, tendo em vista que as religiões constituem cultura anti-intelectual e por marcantes traços de preferência pela fé, pela crença ou pelo pietismo, em lugar do conhecimento racional, como fatores de desenvolvimento social. 

O materialismo histórico não apenas defende ser a religião um produto das relações de produção, em sua maior parte fator de manutenção da estrutura conflitante de classes, mas, sobretudo, que somente a revolução do proletariado, como decorrência do crescente antagonismo de classes presente no modo de produção capitalista, pode reposicionar o poder nas mãos das classes trabalhadoras e implementar a nova estruturação de uma sociedade menos injusta.

Para o marxismo, no lugar das ideias estão os fatos materiais (as formas de produção e as relações de produção), no lugar dos grandes heróis estão as lutas de classes, como fatores determinantes da estrutura e da dinâmica social.

Esquematicamente, para o pensamento marxista a sociedade estrutura-se em dois níveis ou componentes fundamentais: O primeiro nível está na infraestrutura, constituída basicamente pelas formas de produção material e pelas relações sociais de produção, ou seja, a economia, sendo esta determinante na configuração da sociedade.

Sobre esta concepção histórico-materialista as relações de produção se estabelece entre proprietários dos meios de produção e não proprietários dos meios de produção (trabalhadores; ou seja, detentores, apenas, de sua força de trabalho). Entre os não proprietários e os meios ou objetos do trabalho que via de regra não lhes pertencem.

O segundo nível está a superestrutura político-ideológica, constituída basicamente pelos seguintes elementos: 1 - Aparato jurídico-político, representado pelo Estado (detentor dos mecanismos de controle social) e pelo direito, enquanto regramento de controle social; 2- Estrutura ideológica, referente às formas de consciência social, tais como a religião, a educação, a filosofia, a ciência, a arte, as doutrinas jurídicas, e etc.. 

Observa-se que o conhecimento filosófico de Marx sobre a sociedade burguesa que era o centro do seu estudo, buscou entender esta classe social e como ela ditava normas e regramentos sobre o novo sistema de sociedade que estava em construção naquele momento da história. Analisando o seu desenvolvimento por meios econômicos, políticos, biológicos, filosóficos e sociais. 


Abrantes F. Roosevelt, 24 de Junho de 2020



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