Artigo 83 - Por que as Republicas Democráticas estão Morrendo pelo Mundo

Fonte: Mídia Ativa Digital / Texto: Abrantes F. Roosevelt




Por que as Republicas Democráticas estão Morrendo pelo Mundo

As repúblicas democráticas, outrora símbolo de liberdade, participação popular e equilíbrio de poderes, estão em colapso silencioso ao redor do mundo. E não é uma queda abrupta, não é uma revolução sangrenta ou um golpe de Estado clássico. É uma decomposição lenta, sorrateira, muitas vezes celebrada pela própria população que deveria estar em guarda. A democracia está morrendo… com aplausos.

O primeiro sintoma dessa falência é a erosão da confiança. A confiança nas instituições, nos parlamentos, na justiça, na imprensa e até no próprio eleitorado. O cidadão comum já não acredita no voto, mas também não acredita em alternativas. A política virou um teatro cínico, onde todos sabem que estão sendo enganados, mas seguem aplaudindo porque o show precisa continuar. A polarização extrema, alimentada por algoritmos, partidos oportunistas e movimentos ideológicos radicais, substituiu o debate público por histeria coletiva. A razão foi derrotada pela emoção, e o diálogo foi sufocado pela gritaria.

As democracias modernas, especialmente nos países ocidentais, deixaram de proteger o povo para proteger narrativas. A liberdade de expressão está sendo dilacerada, não mais por censores estatais — mas por milícias ideológicas que controlam plataformas digitais, universidades e até a cultura popular. Tudo o que contraria o dogma progressista é rotulado como discurso de ódio. Tudo o que questiona o Estado, o sistema ou a elite ideológica dominante é cancelado, criminalizado ou invisibilizado.

Os Parlamentos viraram arenas de autopromoção. A Justiça, muitas vezes, deixou de ser cega para se tornar partidária. O Executivo, refém de pautas populistas ou globalistas, tornou-se incapaz de defender os verdadeiros interesses nacionais. As leis se multiplicam, mas a justiça mingua. O Estado se agiganta, mas o cidadão encolhe. Estamos presenciando a substituição da república pela tecnocracia, da democracia pela governança de comitês, agências e ONGs transnacionais — não eleitas, não fiscalizadas, não questionadas.

E talvez o mais preocupante: os cidadãos estão aceitando tudo isso. Em nome da “segurança”, da “inclusão”, do “bem-estar coletivo”, os povos estão entregando suas liberdades uma a uma. A vigilância digital se tornou normal. O pensamento único virou virtude. A autocensura virou instinto de sobrevivência. E o voto? O voto se tornou uma simulação de escolha entre opções previamente autorizadas pelo sistema.

As repúblicas democráticas estão morrendo porque seus pilares estão sendo corroídos por dentro: educação ideologizada, imprensa militante, elites políticas corruptas, e uma sociedade civil apática ou radicalizada. Não há mais espaço para o centro, para o equilíbrio, para a ponderação. Os extremos se alimentam mutuamente, enquanto os moderados são calados, escanteados ou rotulados como “cúmplices” do outro lado.

Estamos diante de um paradoxo trágico: a liberdade está sendo destruída em nome da liberdade. A democracia está sendo desmontada com as ferramentas da própria democracia. É o colapso da república por dentro — com aparência de normalidade institucional, mas com alma autoritária. Não é o fim anunciado por tanques nas ruas, mas pela indiferença coletiva e pela manipulação da verdade.

A pergunta que fica não é se a democracia morrerá — ela já está morrendo em vários lugares. A pergunta é: quem ousará enterrá-la com dignidade e reconstruí-la com coragem? Porque fingir que ela ainda vive talvez seja o maior crime contra a liberdade neste século.

A morte das repúblicas democráticas não começou com tanques, mas com palmas. O colapso não se deu por revoluções externas, mas por implosões internas. Tudo começou quando o cidadão comum foi transformado em espectador, não mais participante do processo democrático. Vota-se em candidatos que não representam o povo, mas representam lobbies, corporações, ONGs internacionais, interesses globais. A política virou espetáculo. E quem não segue o script é eliminado.

Os debates deixaram de ser sobre ideias e passaram a ser sobre narrativas. Os partidos se tornaram empresas de marketing político. O populismo de esquerda e de direita passou a dominar o palco, enquanto a racionalidade foi expulsa do auditório. As instituições democráticas, em vez de promover equilíbrio, passaram a ser usadas como armas de guerra ideológica.

Nos países onde a democracia agoniza, há um padrão: o Judiciário deixa de agir como árbitro e se torna um jogador com camisa e torcida organizada. Cortes constitucionais passam a legislar no lugar do parlamento. Promotores perseguem opositores políticos com zelo militante. E decisões judiciais são proferidas conforme o vento político do momento.

Vejamos o caso da Venezuela. A democracia foi morta não com um golpe clássico, mas por meio de sucessivas manipulações constitucionais, pela subordinação do Judiciário ao Executivo e pela destruição da oposição sob pretextos “legais”. Na Nicarágua, Daniel Ortega venceu eleições sucessivas prendendo opositores antes do pleito. Tudo com aparência institucional. Tudo com respaldo “jurídico”.

E nos países ditos democráticos? Em muitos deles, cortes supremas legislam sobre costumes, censuram discursos e impõem ideologias sob o disfarce de “interpretação constitucional”. A toga virou espada.

A liberdade de expressão é o coração de qualquer democracia. Mas hoje, ela está sob ataque — e não por ditadores, mas por plataformas digitais, agências de fact-checking ideologizadas e conglomerados midiáticos com interesses próprios.

Hoje, não é preciso calar alguém com uma mordaça. Basta rotular, desmonetizar, bloquear ou “despriorizar” nas redes. A censura moderna não diz “cala a boca”. Ela diz: “Você violou nossas diretrizes”. E essas diretrizes são escritas por burocratas invisíveis, muitas vezes em sintonia com governos ou interesses globais.

As democracias estão morrendo porque a verdade virou propriedade privada. A opinião livre foi substituída por discursos autorizados. Quem controla o fluxo da informação, controla a consciência coletiva.

A democracia sobrevive quando há povo informado e livre. Mas as massas foram transformadas em rebanhos ideológicos. A educação deixou de ensinar pensamento crítico e passou a doutrinar desde a infância. O analfabetismo funcional cresceu, mas os debates sobre identidade de gênero nos currículos avançaram. O resultado: um povo ignorante, emocional e polarizado.

É mais fácil controlar uma sociedade fraturada. Minorias são incentivadas a odiar a maioria. A maioria é acusada de opressora. Todos se atacam — e o Estado se fortalece no meio do caos. Divide et impera. Divide e governa.

E como no Império Romano, enquanto tudo ruía, o povo recebia pão e circo. Reality shows, TikTok, futebol, músicas vazias, sensualização precoce, drogas liberadas. A distração virou política de Estado.

O maior truque do sistema atual é fazer você acreditar que ainda é livre, mesmo quando suas escolhas já foram decididas. O cidadão vota, mas não escolhe. Opina, mas não influencia. Trabalha, mas é explorado por impostos que sustentam uma máquina podre. Reclama, mas é censurado.

Em países como Estados Unidos, Brasil, França, Alemanha, Canadá, a democracia já não é plena — é uma simulação. Os mecanismos formais existem, mas o conteúdo democrático desapareceu. A república se mantém em forma, mas já não tem alma.

Estamos caminhando para uma nova forma de dominação: o totalitarismo democrático. Um regime onde tudo parece legal, mas nada é legítimo. Onde tudo parece livre, mas tudo é controlado. Onde o povo tem voz, mas só se falar o que o sistema autoriza.

A pergunta que ecoa é urgente: as repúblicas democráticas morrerão sem resistência? Ou ainda há tempo para um despertar? E só há salvação se o povo deixar de ser espectador e voltar a ser protagonista. Se a liberdade voltar a ser um valor inegociável. Se a verdade superar a conveniência. E se a coragem derrotar o medo de ser cancelado.

Porque uma coisa é certa: a democracia, se não for defendida com firmeza, morrerá… e será enterrada sob aplausos — de um povo hipnotizado, governado por elites sorridentes, e escravizado por telas brilhantes.

Mas como saberemos que uma república democrática esta linearmente sobre fio da navalha em seu processo de morte. E o mais assustador é que não morrem com tanques nas ruas ou golpes explícitos, mas em silêncio, com discursos doces, rituais institucionais preservados e uma aparência enganosa de normalidade. A democracia está desmoronando por dentro — e o povo, distraído, anestesiado e manipulado, aplaude o próprio fim sem perceber. O que vemos hoje é um processo de erosão moral, institucional e cultural que destrói os pilares fundamentais da democracia moderna: liberdade, justiça, participação popular e soberania nacional. Tudo isso está sendo minado pelas próprias engrenagens que deveriam sustentá-los.

O primeiro sinal de colapso é a perda generalizada de confiança. O cidadão comum já não acredita em mais nada: nem nos políticos, nem na imprensa, nem na Justiça, nem nas eleições. A política virou um espetáculo grotesco onde todos fingem representar o povo, enquanto servem apenas a interesses de elites globais, grupos ideológicos radicais ou corporações transnacionais. A democracia virou teatro — e quem não segue o roteiro é censurado, rotulado, destruído. Parlamentares que deveriam legislar com base na vontade popular agora se curvam a lobbies e a pautas identitárias importadas. A Justiça, que deveria ser o último bastião da imparcialidade, muitas vezes se comporta como uma milícia de toga, decidindo causas com viés político e sufocando a pluralidade de pensamento sob o pretexto de “proteger a democracia”.

Em muitos países, a destruição da democracia ocorre com base na própria legalidade. A Constituição é usada como escudo e espada para calar opositores, prender dissidentes, controlar a informação e legitimar abusos de poder. O exemplo da Venezuela é gritante: a ruína institucional se deu passo a passo, sempre com aparência legal, enquanto o povo era doutrinado, dividido e empobrecido. Na Nicarágua, o regime de Ortega venceu eleições “democráticas” após prender ou exilar todos os candidatos da oposição. E o mesmo padrão se repete em diversas democracias ocidentais, onde o Judiciário extrapola sua função e atua como poder político, legislando, punindo seletivamente e definindo os rumos da sociedade conforme a cartilha de minorias organizadas.

Enquanto isso, a imprensa, que deveria fiscalizar os poderosos, tornou-se o braço ideológico do sistema. Os grandes veículos deixaram de informar para doutrinar. A verdade foi substituída por narrativas, a investigação por militância. E para garantir o controle total da informação, as big techs entraram em cena. Plataformas como Google, YouTube, Instagram e TikTok passaram a controlar o que pode ou não ser dito. A censura não vem mais de um governo autoritário, mas de algoritmos, políticas opacas e “diretrizes da comunidade” que silenciam qualquer discurso que desafie o status quo. A liberdade de expressão foi privatizada, e o pensamento divergente virou infração de contrato. Quem controla o fluxo da informação controla a consciência coletiva — e quem controla a consciência coletiva molda a política, a cultura e até a moral.

O povo, por sua vez, foi transformado em massa passiva, dependente e ignorante. O sistema educacional foi aparelhado por ideologias que substituíram o pensamento crítico por doutrina identitária. A juventude já não aprende a pensar, mas a repetir slogans. A sexualização precoce, o culto ao ressentimento e o relativismo moral corroem a estrutura familiar e social. A cultura de massa promove futilidade, vício e distração. O pão e circo se modernizaram: agora o povo é dopado com TikTok, pornografia gratuita, drogas liberadas, séries idiotas e músicas depravadas, enquanto a máquina estatal avança, engole direitos e concentra poder. O cidadão, cada vez mais dependente do Estado, aceita qualquer coisa em troca de migalhas de segurança, conforto e pertencimento ideológico.

Tudo isso ocorre em um ambiente onde a democracia ainda existe no papel, mas já está morta na prática. As eleições continuam acontecendo, mas o eleitor escolhe entre candidatos fabricados por partidos corruptos, agências de marketing e grupos de interesse. As instituições seguem funcionando, mas não representam mais o povo. A liberdade continua sendo proclamada, mas só é válida para quem repete o discurso autorizado. O dissidente é calado, o neutro é atacado e o moderado é chamado de covarde. Os extremos dominaram o cenário, e o centro foi esmagado entre eles.

Estamos testemunhando o nascimento de uma nova forma de tirania: o totalitarismo democrático. Um regime onde tudo é permitido desde que você não pense diferente. Onde tudo é legal, mas nada é legítimo. Onde o povo tem voz apenas se disser o que o sistema aprova. Não há mais armas nem censores oficiais. A dominação é psicológica, cultural, emocional. A liberdade foi transformada em uma ilusão. A democracia virou um ritual vazio, mantido apenas para dar aparência de legitimidade ao autoritarismo moderno.

O que está acontecendo no mundo não é um acaso. É um projeto. Um plano de desconstrução dos valores tradicionais, das soberanias nacionais e das liberdades individuais em nome de um suposto bem coletivo, de uma governança global, de uma utopia onde todos pensam igual e obedecem aos mesmos senhores invisíveis. O preço? A morte da democracia, o silenciamento das consciências livres e a escravidão disfarçada de progresso.

A pergunta que resta é: vamos continuar fingindo que a democracia ainda vive ou vamos reconhecer que ela está sendo assassinada diante dos nossos olhos? Haverá reação? Haverá resistência? Ou aceitaremos sorrindo a nossa servidão digital, moral e política? As repúblicas democráticas estão morrendo. E talvez o maior crime não seja assassiná-las — mas enterrá-las sem luta, sem luto e sem memória.

O fenômeno mais inquietante do nosso tempo é perceber que a adesão a regimes totalitários não vem apenas de elites gananciosas ou militares golpistas. Vem do povo comum. Da dona de casa que não aguenta mais ver criminosos soltos. Do jovem desempregado que vê sua nação ser vendida a interesses estrangeiros. Do pai de família que sente que seus valores foram criminalizados. Do trabalhador que, sufocado por impostos e humilhações morais, passa a desejar ordem, força e um líder que “coloque tudo no lugar”. A guinada autoritária não é imposta de cima — está brotando de baixo. É uma resposta desesperada a um sistema que traiu suas promessas.

As pessoas estão se inclinando a regimes de extrema direita não por ignorância, como muitos analistas arrogantes gostam de repetir, mas por desespero racional. Elas veem as instituições falindo, o crime crescendo, a corrupção intocável, a moral sendo ridicularizada, a cultura sendo degenerada, e sentem que a democracia não entrega mais nada — só caos, divisão e decadência. Em vez de liberdade, temos libertinagem. Em vez de justiça, temos impunidade. Em vez de progresso, temos o colapso da família, da fé, da identidade nacional. O povo olha em volta e pergunta: vale mesmo a pena continuar defendendo esse modelo?

É nesse vácuo de sentido que os discursos autoritários encontram terreno fértil. A promessa da ordem substitui a da liberdade. A proteção contra o caos se torna mais sedutora do que o direito de opinar. A figura do “salvador da pátria” ganha força porque o sistema democrático falhou em proteger o básico: segurança, trabalho, justiça, decência. Quando a democracia falha em garantir o essencial, o povo aceita até o inaceitável — desde que alguém “resolva”.

E há ainda uma humilhação mais profunda: as pessoas comuns foram transformadas em inimigos do próprio regime democrático que ajudaram a construir. O cidadão conservador, religioso, patriota, honesto — que outrora era considerado a espinha dorsal da república — agora é chamado de fascista, retrógrado, intolerante. Quem defende a família, a pátria e a fé virou alvo de escárnio. Quem critica ideologias radicais é censurado, cancelado ou processado. Quem ousa discordar da elite progressista é perseguido como criminoso moral. Diante desse cenário, não é surpresa que o povo busque proteção em quem promete devolver-lhe voz, dignidade e autoridade.

A ironia cruel é que o avanço da extrema direita é, muitas vezes, alimentado pelas ações da própria esquerda autoritária. A imposição de ideologias identitárias radicais, o policiamento do pensamento, o desprezo pelos valores tradicionais e o apoio irrestrito a causas que chocam a maioria silenciosa — tudo isso empurra milhões para o abraço dos extremos. É uma reação de sobrevivência cultural. Não é amor ao autoritarismo. É ódio ao abandono.

Além disso, há uma crescente percepção de que a “democracia liberal” se transformou numa ditadura disfarçada. As pessoas votam, mas as decisões reais são tomadas por juízes, burocratas ou conselhos supranacionais. A soberania foi terceirizada para entidades que ninguém elegeu. O povo quer reconquistar o controle — mesmo que para isso tenha que romper com as formalidades democráticas. Quer poder escolher quem realmente manda, quem pode ser responsabilizado. E, para muitos, isso só é possível com líderes fortes, dispostos a quebrar regras em nome da vontade popular.

Não se trata, portanto, de uma paixão cega por ditadores. Trata-se de uma rejeição consciente ao sistema atual. As pessoas querem viver em paz. Querem andar nas ruas sem medo, trabalhar sem ser exploradas, educar seus filhos sem interferência do Estado, dizer o que pensam sem serem caladas. Quando tudo isso é negado pela democracia, a democracia deixa de ser desejável. E o povo, cansado de ser chamado de “ignorante”, “reacionário” ou “extremista” por simplesmente querer o básico, decide apostar no radical — porque o moderado o traiu.

É assim que as repúblicas morrem: quando traem a maioria em nome de minorias barulhentas. Quando criminalizam o senso comum. Quando abandonam a justiça em nome da “justiça social”. Quando protegem criminosos e perseguem trabalhadores. Quando dão mais valor a identidades do que a méritos. Quando transformam o povo em inimigo e o Estado em tutor ideológico. Nesse cenário, o autoritarismo não é uma ameaça externa — é um remédio amargo que a própria sociedade decide tomar por não ver outra saída.

O avanço da extrema direita, portanto, é um sintoma. Não é a causa da decadência democrática. É a resposta a um sistema que deixou de funcionar. E enquanto as elites rirem do povo, o humilharem, o desprezarem e o acusarem de tudo, mais forte será a reação. Não por irracionalidade — mas por instinto de sobrevivência.

A pergunta que resta é se ainda há tempo de salvar a democracia das mãos daqueles que a traíram. Porque se não houver correção de rota, o povo não vai implorar por liberdade: vai exigir controle. E quem prometer ordem, honra e autoridade — mesmo que à força — vencerá. O sistema democrático, tal como o conhecemos, já não emociona mais. Ele apenas cansa, decepciona e oprime. E quando a democracia deixa de inspirar, ela começa a morrer.

A derrocada das repúblicas democráticas não se deve apenas a políticos corruptos ou sistemas falhos. Há algo ainda mais decisivo nesse processo: o papel da mídia e das elites intelectuais na desconstrução da própria confiança no modelo democrático. Durante décadas, esses setores que deveriam iluminar, informar e orientar a sociedade passaram a agir como aparelhos ideológicos militantes, promovendo narrativas enviesadas, escondendo verdades inconvenientes e atacando qualquer voz que ousasse destoar do discurso oficial. A imprensa — que já foi símbolo de liberdade — se tornou instrumento de manipulação. Os jornalistas, outrora fiscalizadores do poder, hoje se comportam como sacerdotes de uma nova ortodoxia progressista, usando manchetes como púlpitos e editoriais como evangelhos políticos. A missão de informar deu lugar à doutrinação em massa, e o cidadão passou a ser tratado como massa de manobra, não como ser pensante.

As elites intelectuais também se corromperam nesse processo. Abandonaram a busca honesta pela verdade em troca de prestígio acadêmico, financiamento estatal ou aprovação de pares ideológicos. As universidades, em vez de centros de pensamento crítico, tornaram-se usinas de militância e ressentimento. Em nome do “politicamente correto”, da “justiça social” e da “diversidade”, o pensamento livre foi banido, a dissidência foi criminalizada e o conhecimento virou um campo de guerra ideológica. A cultura da desconstrução tomou conta da academia: desconstruiu-se a história, os símbolos nacionais, os valores ocidentais, a biologia, o mérito e até o conceito de verdade objetiva. E, com isso, desconstruiu-se a confiança do povo nesses intelectuais. O cidadão comum percebeu que esses “especialistas” não falam mais por ele — falam por uma bolha arrogante, desconectada da realidade, que despreza seus valores, sua fé, sua luta, sua identidade.

O resultado disso é devastador. Quando a mídia mente, o povo busca fontes alternativas — mesmo que sejam radicais. Quando a universidade ridiculariza a moral popular, o povo busca líderes que defendam suas crenças — mesmo que sejam autoritários. Quando o “especialista” trai o bom senso, o povo confia no “outsider” que fala sua língua. A guerra cultural, alimentada pelas elites, abriu um abismo entre o sistema e a sociedade. E esse abismo está sendo preenchido não com pontes, mas com fúria.

Essa ruptura interna está gerando efeitos geopolíticos de alcance profundo. O mundo está caminhando para um novo mapa de alianças, tensões e conflitos — não mais definidos apenas por interesses econômicos ou fronteiras nacionais, mas por visões de mundo. A ascensão de governos autoritários de direita é reflexo direto da insatisfação popular global com a hegemonia do progressismo liberal ocidental, que tenta impor seus valores como universais. A resistência a isso está gerando novos polos de poder, onde nações passam a se alinhar por afinidade ideológica e cultural — e não apenas por acordos comerciais ou tratados militares.

A polarização interna nas democracias está fragilizando os blocos históricos. Os Estados Unidos, por exemplo, estão divididos como nunca desde a Guerra Civil. A União Europeia enfrenta conflitos internos de identidade, imigração, religião e soberania. O Brasil vive uma guerra cultural que paralisa seu avanço. E, enquanto o Ocidente se autodestrói, potências como China, Rússia, Irã e Turquia se consolidam como modelos alternativos, ainda que autoritários, de ordem, força e propósito nacional. O mundo já não está dividido entre democracias e ditaduras — está dividido entre sociedades que acreditam em sua cultura e as que se envergonham dela. E quem acredita, vence.

O avanço de regimes de direita autoritária também reorganiza o equilíbrio global de poder. Cada nova eleição vencida por candidatos considerados “populistas”, “reacionários” ou “antissistema” representa um terremoto político que desestabiliza instituições internacionais como ONU, OMS, OEA e outras entidades globalistas. O discurso da soberania volta com força, o protecionismo econômico ressurge, as alianças militares se reconfiguram, e o multiculturalismo perde terreno para o nacionalismo. A diplomacia, antes pautada por protocolos ideológicos, passa a se curvar à realpolitik: poder, interesse nacional e defesa de valores próprios, mesmo que às custas da diplomacia tradicional.

O futuro geopolítico, nesse contexto, será marcado por três movimentos simultâneos: o enfraquecimento das democracias liberais tradicionais, o fortalecimento de lideranças autoritárias com apoio popular e o colapso gradual das estruturas de governança global centralizada. As guerras do futuro não serão apenas travadas com armas, mas com ideias, com narrativas, com controle da informação e das emoções coletivas. A soberania digital, a censura velada e a manipulação de massas serão armas tão poderosas quanto mísseis ou sanções econômicas.

E tudo isso está nascendo daquilo que um dia chamamos de “crise da democracia”. Mas não é uma crise — é uma transformação profunda, estrutural e irreversível. A democracia não está apenas doente. Ela está sendo substituída, desmontada e reformulada sob os olhos de todos. Não por inimigos externos, mas por seus próprios filhos: elites arrogantes, mídia corrompida, instituições aparelhadas e uma sociedade civil desorientada, manipulada e cansada de lutar por um modelo que já não lhe serve mais.

Se nada for feito, o futuro será dominado por regimes híbridos, onde a aparência democrática se mistura ao controle absoluto da vida privada. E quando o mundo despertar desse delírio ideológico global, talvez descubra que a democracia morreu... não por causa dos tiranos, mas por causa da traição silenciosa dos que deveriam protegê-la.

Chegamos ao ponto em que é preciso encarar a verdade com coragem: as repúblicas democráticas estão morrendo porque foram abandonadas por aqueles que deveriam defendê-las, traídas por suas próprias elites e desprezadas por um povo cansado de fingir que ainda é livre. O que resta hoje são fachadas institucionais, discursos vazios e eleições ritualísticas que mascaram o colapso moral, cultural e político do Ocidente. A democracia não ruirá com tanques nas avenidas ou líderes gritando ordens em palácios. Ela está morrendo como morrem as civilizações — de dentro para fora, corroída pela arrogância dos intelectuais, pela covardia dos líderes, pela manipulação das massas e pelo silêncio dos justos.

O futuro já não pertence à utopia liberal construída no século XX. Ele está sendo redesenhado agora, nas urnas e nas ruas, nas trincheiras digitais, nos pátios das escolas, nos parlamentos e nas fronteiras. O povo, farto de promessas não cumpridas e de ser insultado por pensar diferente, não quer mais discursos — quer ordem, dignidade, raízes. E quem souber oferecer isso, com coragem e verdade, conquistará os corações de milhões, mesmo que o preço seja a erosão das liberdades formais.

O que virá depois desse ciclo — ninguém sabe. Talvez um renascimento brutal, talvez uma nova forma de totalitarismo higienizado. Mas de uma coisa podemos estar certos: a velha democracia, aquela em que acreditávamos com fervor, já não está entre nós. Resta agora decidir se seremos os coveiros do sistema ou os arquitetos de algo novo. Algo mais verdadeiro. Algo mais honesto. Algo que, enfim, esteja à altura da dignidade do povo que foi traído.

Porque se há um legado a ser preservado — não é o sistema, mas o valor da liberdade. E essa, quando sufocada, sempre encontra um jeito de voltar. Nem que seja gritando, pelas mãos de quem um dia jurou nunca mais se calar.


Abrantes F. Roosevelt, 01 de Julho de 2025

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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