Artigo 12 - Brasil, Um País Ainda Racista


Fonte: Mídia Ativa Digital / Texto: Abrantes F. Roosevelt



Brasil, Um País Ainda Racista


O Brasil é sem dúvida alguma um dos países onde mais se pratica de forma velada e as vezes explicita o exercício da discriminação e da injuria racial em todo o mundo, apesar de seu território ser palco da maior diversidade de mistura racial humana do planeta, ainda existe nos porões da sua sociedade atual, principalmente sobre as subcamadas do seio social das elites e infelizmente das camadas mais pobres, a ideal de supremacia supra esbranquiçada, que em sua minoria superficial (descendentes de uma suposta raça pura e branca e burguesa existente no brasil) dominam o capital social de poder sócio-econômico-político.

O racismo infelizmente ainda é uma das chagas que mais mutila, deteriora, fragmenta, fuligem, ojeriza e famigerada a dignidade do ser no mundo, está sinopse de tragédia humana é uma triste recordação da herança da escravização negra que acorrentou milhares de africanos por mais de quinhentos anos em todo o planeta, em especial na Europa, nas Américas do Norte e do Sul.

Esta tragédia humanitária ainda produz violências, pobrezas, dor e tristezas em muitos afrodescendentes espalhados pelo mundo. Estas heranças da escravidão são visíveis quando se olha para África como um todo, devido em grande parte a colonização de seus territórios, principalmente pelos ingleses, portugueses, espanhóis e franceses.

Países atualmente, nações independentes que foram colonizados por estes quartos países, estão até hoje prejudicados em seus desenvolvimentos sócio-econômico-político, pois estes países apenas foram explorados, extorquidos, saqueados e destruídos em suas culturas e crenças. Exceção feitas apenas aos Estados Unidos da América, Canadá e Austrália, que se libertaram mais cedo das correntes de seus colonizadores e implantaram governos próprios.

Países que permaneceram colonizados, apenas serviram de berço para industrialização mercantil e produção manufatureira que tinha o braço escravo como motor principal de sua expansão mercantilista e territorial.

Tanto a escravidão, quanto o mercantilismo europeu foi uma praga, uma simbiose fétida, uma doença infecciosa para os territórios recém descobertos e colonizados. Os regimes monárquicos da época, ou seja, as estruturas de governos que dominavam o período, mais a ajuda pseudo-religiosa da igreja Católica, fonte de poder dos príncipes e reis, reforçavam e até confirmavam a legitimidade ética da escravidão.

Estes conceitos foram categorizando no decorrer do tempo uma serie de aforismos mentirosos e absurdos, estes fatos intitulavam que os negros não eram iguais aos demais outros serem humanos existentes na terra, ou seja, que os negros não eram iguais aos brancos, por que estes, os negros, não possuíam alma espiritual dada por Deus, estes possuiriam uma casca vazia, reduzindo-os a animais.

Desta forma os padres e sacerdotes da época declaravam e proclamavam em suas missas e sermões ao povo um amontoado de mentiras e canalhices que privilegiava o escravocrata branco e detentor da terra, e tudo isto era decretado e ratificado exclusivamente pela igreja.

Nesta quarta-feira dia 20 de novembro de 2019 é substancialmente comemorada o dia da consciência negra aqui no Maranhão, dia este que foi sumariamente abolido pelo poder judiciário deste mesmo estado apedido da classe comercial que escraviza aqui em São Luís os chamados novos escravos, que acorrentados não pela força ou pela corrente, mais pelo salário de fome que esta classe empresarial fornece graças ao capitalismo de consumo.

Isto supostamente foi feito para se evitar mais um feriado estadual e assim evitar que as supostas vendas caiam de rendimento em seu pelo auge de fim de ano, onde o consumo é maior. Mais a questão maior aqui não o que um bando de branquelos, sentados é uma cadeira de madeira qualquer, empurrados por outros branquelos donos de lojas e varejos, arbitram contra este dia.

O que fica em voga está exatamente em que grau de consciência está hoje esta comunidade negra, que dia após dia é excluída de seus direitos mais essenciais, ou seja, pessoas que se encontram destituías de seu direito a dignidade e igualdade.

A população negra no Brasil ultrapassa o número de pessoas brancas, mas os negros neste país ainda são pessoas invisíveis, descoloridas, intangíveis e inócuas, elas simplesmente são ignoradas, não exercem e nem gozam dos mesmos direitos sociais que os brancos detêm.

Para se ter uma ideia do que de verdade acontece no Brasil, é que há em curso e isto ocorre a várias décadas a ferro e a fio, uma perigosa tragédia humanitária, um verdadeiro genocídio em massa orquestrado contra as pessoas da raça negra, principalmente contra os jovens negros.

A polícia brasileira é a que mais mata gente negra e a justiça é a que mais trancafia jovens e adultos negros no mundo. A desigualdade social, a mesmo que prende e mata, é a mesmo que segrega, excluir, marginaliza, não dar educação, não disponibiliza emprego, não dar saneamento básico, coloca o negro em favelas e palafitas, e expõe a família do negro a todo o tipo de violência permitida e não permitida.

A sociedade brasileira é a que mais excluir e interrompe vidas negras no Brasil, o grau de escolaridade entre os negros ainda permanecem entre os mais baixos, e isso só aumenta quando se olha para o norte e nordeste do país.

E o descaso e a desigualdade não para pelos direitos constitucionais negados ao povo negro, quando vemos propagandas na televisão, nas redes sociais, internet e em outras mídias diversas, não se ver negros, isso vale para os livros didáticos, para as novelas, para os desenhos animados, para os heróis das revistas em quadrinhos, para as embalagens de produtos nos supermercados e para os altos cargos em empresas privadas e órgãos públicos.

Neste último caso citado no parágrafo anterior, poucos são os negros que ocupam altos cargos de grande representatividade social, econômica e política, a discriminação e o racismo é tão evidente e grotesco que apesar de alguns poucos negros possuírem boas e até ótimas formações, ainda assim não conseguem galgar cargos de representatividades importantes, justamente por serem e terem a cor de sua pele preta.

Os crimes raciais e de injuria, ou o racismo ainda são mais graves quando observamos as mulheres negras brasileiras, que são também as que mais sofrem duros racismos e graves descriminações sociais, sejam estas violências sociais evidenciadas pela cor que usam em suas unhas, por manterem encaracolado as suas madeixas, por entrançarem os seus cabelos dreds, ou por usarem determinados tipos de roupas que as identificam e as afirmam como negras e também por serem mulheres.

Elas ainda são as que baixas remunerações recebem, e se comparadas a outras mulheres brancas, recebem menos ainda, quando são comparadas aos homens, esta comparação vira um escorregador inclinado para baixo, ambas mulheres brancas e negras, recebem muito menos ainda em relação aos homens, sejam eles brancos ou negros.

Os homens negros por sua vez são patenteados como preguiçosos, ladrões, vagabundos e outros adjetivos que nem merecem ser mencionados, uma adjetivação discriminatória atribuída com intuito de diminuir o homem negro no Brasil, uma injuria repudiável.

A discriminação no Brasil ver sempre o homem negro como o zelador, o motorista, o manobrista, o porteiro, a guarda-costas, o auxiliar de alguém, o mordomo e outra profissões que não seja de comando, liderança, gerencia ou de alto poder ou cargo mais elevado, não que as outras primeiras profissões relatadas não sejam dignas, elas são dignas, mais não devem ser as únicas a serem vistas como profissão ao homem negro, o mesmo exemplo vale para as mulheres.

A descriminação racial no Brasil segue um padrão intimista, cruel, velado, sujo, e cheio de conceitos pré-formulados como ratificações incultas e aplicados apenas pelo informe da cor de pele. No Brasil se você é negro poder ser facilmente um ladrão, se você é negro é facilmente pobre, se você é negro, você facilmente pode ter baixa escolaridade, se você é negro é facilmente excluído, se você é negro facilmente é marginalizado, se você é negro, poder ter facilmente poucas oportunidades de educação e um bom emprego, e isso tudo pode acontecer com um cidadão negro hoje no Brasil, somente pelo fato de ser negro.

Esta marginalização do povo negro no Brasil é sem sombra de dúvidas uma herança do velho Brasil colônia, uma herança dos muitos séculos de escravização e exploração do trabalho escravo diluído e extorquido pelo povo branco que dominou este cenário de horror durante todo os séculos passados, principalmente os advindos do século XV aos XVIII.

Muitos especialistas, sociólogos, antropólogos e cientistas políticos afirma que há duas maneiras para se iguala as discrepâncias sociais entre bancos e negros no Brasil, isto para se tentar quitar uma dívida histórica que engoda séculos de juros a pagar.

A primeira e a mais branda seria um reconhecimento público de âmbito nacional, envolvendo um esforço de cunho de governo, amparado por vias estatais, com o intuito de fazer reparações eficazes e eficientes na distribuição de renda e de poder social, econômico e político entre estas duas raças envolvidas, o que mostraria um grau de importância para o Brasil e os seus habitantes, tendo assim uma divisão do bolo social com uma terceira raça, neste caso a raça indígena, esta última, infelizmente também vem passando pelos mesmo genocídio social, cultural, territorial e humano, o que agrava mais a situação de desigualdade no país.

A segunda e a mais radical seria uma escravização de mesmo porte, mesmo peso e raiz decretada aos brancos, com um viés de mesmo arquétipo que foi imposta aos negros nos séculos passados durante o auge da escravidão negra, ou seja, uma escravização branca, onde os senhores seriam o homem negro, e o escravo e oprimindo o homem branco.

É claro que esta segunda opção é algo impensado e não humano nos dias de hoje, e mesmo em qualquer época, escravizar alguém é odioso, e é claro em plena a democratização política do estado brasileiro isto é visto como arianismos, e não queremos nunca mais isto no mundo, basta a Alemanha e o seus tristes exemplos do passado.

Os novos regimes de sociedade a que estamos expostos a nossa vil e biltre vida cotidiana, mesmo com tanta desordem, a ética e a coletividade deve permanecer na democracia do estado de direito, e isso segundo esta posição radical seria impensável pensar.

No entanto o racismo precisa melhor ser visto e olhado, algo precisa ser feito, algo precisa ser repensado e a isonomia entre as raças precisa ser restaurada e planificada. Não se pode neste país ter uma minoria branca abastada, vivendo do suor e da dor de uma maioria negra ainda escravizada, hoje é claro não por correntes, mais pela baixa escolaridade, pelo salário de fome, e pela desigualdade e justiça social que hoje é fomentada.

Não se pode ter uma país onde ainda há fome, desemprego, baixos salários, baixos níveis de saneamento básico, saúde de má qualidade, seguridade social desigual e genocídio sendo aplicado e orquestrado apenas ao um determinado de tipo de povo ou raça. Há em curso uma limpeza social que deve e tem que ser revista e cessada.

Há no Brasil algo que inspira vergonha e desonra, há no Brasil uma ojeriza desprezível de homens que manipula o poder e que sobrevivem da morte e dor de outros homens, e é preciso alterar, ter mudanças, outras regras para se jogar um outro jogo.

O povo negro precisa arma-se de consciência, arma-se de imposição, arma-se de vontade, arma-se de coragem para viver em pé e de cabeça erguida, se possível morrer para ter e exigir os seus direitos fundamentais respeitados, mais viver de joelhos é algo que não dar mais para suportar, ou vive-se para lutar e conquista, ou morre-se tentando ter igualdade e isonomia. Uma guerra por direitos precisa se formada, e a luta por direitos precisa de um levante, seja ele um levante de ideias ou por armas, mais algo precisa se levantar, que nos levantemos então juventude negra.


Abrantes F. Roosevelt, 29 de Novembro de 2019


Comentários

  1. Uma das mais célebres frases de um dos maiores defensores dos direitos humanos Nelson Mandela dizia:
    "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar."
    Um texto bem colocando e fortes sim, pois é necessário trazer constantemente a voz da população negra que ainda é colocada a marginalizada, escravizada por todo tipo de meio de comunicação e a sua ocupação em grandes cargos de liderança ainda é uma gritante desigualdade que reflete toda a história de escravidão realizada para interesses de portugueses, britânicos e todos os povos que utilização parte da população humana como escravos para almejar seus objetivos.
    A nossa realidade é um racismo velado e que somos um pessoa preta saber que passa em uma rua e a outra pessoa mudar de direção e está dentro da condução e olhares das pessoas de desprezo e criar um ambiente constrangedor. Algumas situações que no caso eu mesmo não passei, e faço parte dessa parcela menor e tenho plena consciência que necessário combater o racismo de todas as suas formas!
    Que precisamos continuar lutando e resistindo e um texto que me tocou profundamente para auto-reflexão.
    São palavras que trazem à tona uma realidade não tão discreta que vidas negras são mortas todos os dias, que a importância da história para repensarmos e não repete os erros do passado.
    Obrigada por seu texto e espero que continue escrevendo para refletir e compartilhar conosco.
    Estamos juntos nessa guerra de consciência, meu caro Abrantes.
    Até logo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário