Artigo 50 - O Paradoxo do Sucesso do Agronegócio Brasileiro que Promove a Fome no Brasil

Fonte: Mídia Ativa Digital / Texto: Abrantes F. Roosevelt


O Paradoxo do Sucesso do Agronegócio Brasileiro que Promove a Fome no Brasil


Alimentar o mundo deveria ser uma premissa moral para qualquer agronegócio do planeta. A pratica de uma cultura agrícola pouco invasiva e que interferisse menos nos ambientes naturais, também precisaria está na agenda dos produtos rurais. Uma preocupação social, econômica e ambiental que deveria ter um olhar mais humanizado e menos monetário.

O agronegócio brasileiro tem alimentado o mundo inteiro, principalmente a China, alguns Países Asiáticos, uma parte da Europa e também os Estados Unidos da América, um feito surpreendente para uma economia emergente como a do Brasil.

As exportações nunca tiverem um balanço comercial tão extraordinário e favorável quanto estes que foram computados pelo setor nos últimos dois anos. E mesmo com as duras baixas econômicas promovidas recentemente pela crise sanitária da Covid- 19 e com o fantasma da inflação rondando as esquinas de nossa economia, este setor foi o que mais contribui para o PIB de 2020.

Estes recordes gerados pelas exportações brasileiras têm garantido riquezas e muitos dólares para o setor da agroindústria do brasil, um paradoxo imoral que contrabalança o papel da fome existente no território nacional, deixando milhões de brasileiros com os seus pratos vazios.

O brasil hoje é o maior exportador de proteína animal e de grãos do planeta, alimentamos o mundo, mas matamos os nossos próprios cidadãos de fome. O sucesso do agronegócio brasileiro tem gerando uma contradição de termos que a população não tem entendido em seu escopo final.

A miséria e as desigualdades sociais também são um outro aspecto que vem destruindo a sociedade brasileira, uma característica determinante que foi ainda mais exposta pela crise sanitária da covid-19. Uma ferida ainda sem cura que foi revelada sem as suas principias premissas causadoras, a falta de competência e de descasos políticos que duram décadas.

Atualmente existem no Brasil cerca de 14 milhões de desempregados, um verdadeiro exército de contingente produtivo que poderia está gerando riqueza para a nação. E frente a isto uma outra parte da população ainda vive em condições de quase miséria, e muitas pessoas sobrevivem com menos de 1 real por dia. A falta de empregos, ocupação e renda tem colocado um silencio nos pratos de milhões de lares do Brasil. E a fome é um triste retrato que vem sendo fotografado todos os dias em forma de denúncias pelas mídias sociais, canais da internet e telejornais.

Infelizmente durante a crise sanitária ouvimos falar bastante de corrupção envolvendo a classe política e empresarial envolvida em roubos e fraudes na compra de equipamentos respiratórios e de vacinas, mas não ouvimos falar que a população brasileira fez saques a supermercados e lojas varejistas por conta de tanta fome que foi gerada durante a crise.

A fome tem sido uma cruel realidade para a maioria da população brasileira, uma guerra pela sobrevivência que foi somada a mortes promovidas pela covid-19 e alta dos preços no custo de vida para sociedade. A inflação tem projetado a alta dos preços na cesta básica, no gás de cozinha, no preço da gasolina, no transporte público e na conta de luz. Isto afetou diretamente os mais pobres, um determinante que está agravando ainda mais as desigualdades sociais, provocando uma crise existencial entre grupos distintos da sociedade.

Enquanto isso, os brasileiros não conseguem entender o sucesso do agronegócio. Hoje somos um dos principais mantenedores da alimentação mundial, mas internamente a população brasileira viver como cães na porta dos açougues, feiras e lixões. A agroindústria produz o que existe de melhor na agropecuária.

Nossas empresas produzem as melhores carnes bovinas, suínas e aviárias, também produzimos a melhor soja, o melhor milho, o melhor feijão e o melhor arroz. Também somos responsáveis pela produção dos melhores legumes, frutos e laticínios do planeta.

Mas, no entanto, nossa gente morrer de fome e cata ossos bovinos em frigorifico e lixões. Neste aspecto, não estamos sendo os melhores patriotas da nação quando exportamos o que há de melhor para o exterior e comemos o que há de pior na produção agrícola do brasil.

Estamos neste exato momento, devastando, queimando, derrubando e exterminando milhões de quilômetros quadrados de nossas florestas nativas do eixo da Amazônia Legal e do Pantanal. Hoje existem vários metros quadrados de mata nativa sendo propositalmente incendiadas para abrir caminho para o desenvolvimento agrícola. E isto tem sido feito para suprir as necessidades de plantio de monoculturas de arrendamento mercantil e de criação de animais de abate para o mercado de proteína animal. Um determinante que serve aos interesses alimentares da exportação estrangeira, sacrificando como contrapartida o povo brasileiro que passa fome em seu próprio território.

Estamos mutilando uma herança nacional, própria dos brasileiros para fomentar interesses particulares de agroindustriais mesquinhos e de seus compradores internacionais. A Floresta Amazônica é uma propriedade pública que está sendo privatizada pelos fazendeiros, grileiros de terras, posseiros, mineradores e especuladores.

Imagens recentes registradas pelos satélites da NASA imprimem muito bem os horrores vividos pela fauna e flora brasileira nos últimos seis meses de 2021. Estas tristes estatísticas, vem sendo monitoradas, estudadas, e catalogadas por vários órgãos do governo e organizações não governamentais. Um monitoramento que não impediu as práticas de derrubada e apropriação de terras públicas. Algumas destas informações geraram vários relatórios seríssimos que foram documentados e publicados pelo IMPE, ICMBIO e até pelo Greenpeace.

Algumas regiões do relevo amazônico já estão na etapa final de processamento e transformação das terras, muitas estão virando pasto para o gado, outras porções convertidas para a monocultura, e vários lotes estão sendo loteados, zoneados e escampados para construção de estradas, silos de armazenagem e constituição de propriedade rural. Enquanto outras áreas, menos favoráveis a agroindústria, depois de devastadas, viraram zonas desérticas e abandonadas.

Os crimes ambientais promovidos na região da Amazônia e do Pantanal são diversos e muito graves. E o resultado dessa anuência e omissão está presente na seca dos rios, no baixo volume hídrico dos lagos, na diminuição das cristas de águas das cachoeiras, na perda de biodiversidade, na destruição de habitats naturais dos animais, no extermínio de arvores nativas e na morte de animas endêmicos típicos daqueles locais.

E com os rios mais secos, perenes e inertes, somados as drásticas diminuições do número de arvores e de mata ciliar, promove-se sequencialmente, mudanças agressivas no ecossistema, no regime de chuvas e na interferência do próprio clima. O primeiro impacto observado depois de grandes desmatamentos, queimadas e na transposição e remodelamento do de cursos de águas para açudes e uso na mineração, estão as inferências climatológicas refletidas diretamente na pluviosidade do regime das chuvas.

Estas regiões têm alterações climáticas convertidas em anomalias ambientais severas que comprometem não somente a sua região de origem, mas modificam o clima de regiões adjacentes e até continentais, a exemplo disso temos as fortes tempestades de areia, tempestades de raios, ventanias e vendavais, chuvas torrenciais e volumosas, precipitações de granizo e tornados, furações e outras fenômenos da natureza que acabam se intensificado pela ausência de barreiras naturais como florestas, montanhas, relevos e outros acidentes geográficos que deveriam amenizar tais ocorrências. E isto tudo, acontecendo dentro de um efêmero e curto espaço de tempo.

Os ganhos para economia são muitos, mais os danos para o meio natural são terrivelmente maiores e mais caóticos para a população. A exemplo disso temos os Estados unidos da América que nos 20 devastaram as suas floresta e regiões de mata nativa para construção de cidades, implantação da agroindústria de massa, mecanização da logística de transporte e a industrialização automotiva. Um investimento econômico que lhes rendeu muito mais danos sociais do que retorno econômico.

Hoje sem a proteção natural de suas florestas e de seus acidentes geográficos, a maioria da população americana enfrenta todos os anos, os terríveis tornados, furações, vendavais, tempestades de neves, temporais e enchentes de toda ordem e diversidade. Um preço que talvez deva ser repensado pela agro economia do brasil.

Este problema de ocupação dos espaços naturais da Amazônia e do Pantanal frente o avanço da agricultura de produção industrial que pressiona o brasil, poderia ser resolvido se fosse implementado um sistema simples de Permacultura.

Este sistema tem como premissa um fechamento de ciclo baseado na reutilização e renovação de insumo usando os mesmos recursos naturais utilizados na linha de frente da produção. Este sistema faz a reciclagem destes insumos, tornando estes viáveis e uteis para um novo uso dentro do sistema.

Este sistema ainda permite a reutilização de espaços utilizados na produção agrícolas por meio de um sistema de rodízios. Um determinante que garante o aproveitamento de terras agricultáveis, recuperação de águas fluviais e na produção de insumos e matriz energética para o setor agrícola. Um sistema 100% renovável, sustentável e ambientalmente equilibrado.

O sistema de Permacultura busca criar sistemas funcionais de produção que supram as necessidades humanas fazendo a integração harmoniosa dos habitantes com o meio natural usado na produção agrícola, interligando as demandas, os recursos e o próprio local de aplicação, tornando-o um sistema cíclico e prefeito no uso dos meios naturais.

A Permacultura foi desenvolvida na década de 70 por Bill Mollison e David Holmgren na Tasmânia, como uma resposta ao sistema industrial e agrícola de sua época. Bill e David organizaram a agricultura ancestral, as habilidades locais, a sabedoria tradicional e a moderna. E juntando todo esse conhecimento e tradição criaram a palavra Permacultura.

A Permacultura tem como base a ecologia e é um instrumento utilizado para a criação de sistemas humanos sustentáveis, valorizando e unindo os seguintes pontos: 1- Conhecimento tradicional; 2- Agricultura ancestral; 3- Construções eficientes; 4- Equilíbrio (mental, físico e espiritual); 5- Diversidade; 6- Recursos naturais e sustentabilidade. E reunindo os Princípios da Permacultura aos atuais conhecimentos Científicos e Tecnológicos e também aos valiosos Conhecimentos Ancestrais, torna-se possível desenvolver técnicas de utilização consciente dos recursos naturais, como o solo e a água. A estas práticas de Agricultura Ambiental, chamamos de técnicas de Tecnologias Sociais, pois elas são simples, eficientes, de baixo custo e de baixo impacto ambienta. E além disso, são facilmente replicáveis em diversas comunidades, favelas, povoados, vilarejos, chácaras, fazendas e muitas zonas rurais. Inclusive em zonas urbanas, como em nossas próprias casas.

A agro economia brasileira como acabamos de ver no texto acima, deveria ser uma solução para os problemas sociais, econômicos e ambientais que operam hoje no brasil. Trabalhando na realização de instrumentos mais práticos que garantam a sustentabilidade, o equilíbrio e a maturação de sua cultura exploratória inferidas aos meios naturais.

O agronegócio brasileiro deve em sua premissa social e enquanto entidade orgânica, representante do seu setor que retira dos ambientes naturais a sua principal matéria prima como produto meio de seu sustento laboral, uma lucratividade mais ética e necessária para manter os seus negócios. Respeitando a biodiversidade da flora, fauna e de outros fatores bióticos e abiótico existente na natureza.

Trata-se hoje de um deve moral e ético que o agronegócio brasileiro seja uma solução sustentável, planejada e organizada em todas as suas atividades de produção, promovendo mais serviços e manejos inteligentes na composição de seus produtos finais, equacionando de forma justa e harmoniosa a distribuição do que é produzido dentro do brasil para manter também o mercado interno e não somente externo.

O trato com mecanismos mais eficientes de discursões sociais, econômicas e ambientais referentes a industrialização do campo, manejo de grãos em plantações de culturas que exigem trocas constantes de áreas agricultáveis, uso irresponsável das águas de rios e lagos para irrigação, abertura de espaços em florestas nativas para criação animal de abate, uso de agrotóxicos, extrativismos mineral, conflitos pela posse da terra, invasão a terras indígenas e outros problemas adjacentes e prejudicais ao meio ambiente e também ao próprio homem do campo e pequenos produtores precisam ser urgentemente repensadas e melhor geridas pela comunidade rural, indígenas, agricultores familiares e pela política nacional do brasil.

Estas são demandas serias e imperativas, passiveis de discursões mais acaloradas para melhorar o trato do agronegócio em relação as exportações de nossas matérias primas. Principalmente dos nossos alimentos produzidos em solo nacional, estando como usufruto da produção as aguas e o solo público de pertencimento de todos os brasileiros.

Neste aspecto, torna-se inaceitável que um país que alimentar o mundo, um pais que movimenta milhões de dólares e que produz tamanha riqueza, coloque os seus iguais, os seus irmãos em situação de fome, miséria e pobreza extrema.

O brasil e o Agronegócio Brasileiro até “pode ser Pop, pode ser Tec e Rock, como a televisão romantiza em suas propagandas de marketing, mais a realidade é que essa coroa e essa fartura está hoje concentrada nas mãos de poucos que exploram um patrimônio coletivo e público pertencentes a milhões de brasileiras, como é o caso das terras existentes na Amazônia e no pantanal e isso não é justo com o brasil, nem com os brasileiros.

O ideal é que houvesse um replanejamento no critério adotado na produção agrícola e ambiental do brasil. Trabalhando com novas práticas sustentáveis que permitisse o reflorestamento da Amazônia e do Pantanal. Aplicando técnicas agronômicas mais horizontais e menos danosas aos espaços naturais. Tornando principalmente o norte e nordeste brasileiro e algumas partes importantes do centro-oeste que estão mais propicias a desmatamentos e invenções da indústria agraria, passiveis de uma produção agro comercial mais humanizada e sustentável do ponto de vista econômico.

O Sistema de Permacultura poderia ser facilmente aproveitado no solo árido e seco da região nordeste que historicamente é castigado com as secas e as altas temperaturas da região. Um determinante geográfico que se bem aproveitado, poderia fomentar o setor econômico local, utilizando-se do artificio cientifico e prático deste Sistema de Reciclo Fechado para beneficiar as populações mais pobres e carentes de recursos.

Este sistema também ajudaria a agricultura familiar e os pequenos negócios da região, tornando o seu desenvolvimento mais rápidos e funcionais, ambos trabalhariam no auxilio mutuo do equilíbrio econômico, utilizando-se das mesmas ferramentas, produtos e insumos que forem sistematicamente requalificados pelo sistema.

A utilização destes insumos na forma renovada de suas composições, agencia uma reciclagem de seus ciclos fechados no processo de transformação, um fato que deve promover a produção continua dos produtos manuseados com a sistematização prolongada do rodizio solo, e reuso da água qualificada nos processos.

O aproveitamento de insumos orgânicos mais saturados, também promovem a renovação de material biológico mais assépticos para o consumo humano, aumentando a produção de uma matéria prima mais consolidada e uma reciclagem permanente para a transformação e uso da água e do solo.

Neste aspecto a fome é urgente, as dores são imperativas e a miséria do povo é algo inaceitável. O brasil que alimentar o mundo é o mesmo que matar os seus cidadãos de fome e isso é um paradoxo terrível. O brasil precisa mudar e priorizar o seu povo. Não é justo alimentarmos o mundo com carne de primeira e comermos ossos. A riqueza do brasil deve ser um patrimônio de todos, um recurso comum a sociedade, a agroindústria deve trabalhar para a coletividade brasileira e não para um grupo. Tornando os seus produtos mais acessíveis, mais baratos e mais próximos da população do brasil.

                Abrantes F. Roosevelt, 29 de Setembro de 2021  


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